terça-feira, 23 de novembro de 2010

DE QUEM ERAM AS BODAS (CASAMENTO) ?

Quando se deixa Nazaré, na Baixa Galileia, no caminho de Tiberíades, a pequena distância daquela cidade e no termo das colinas que a limitam pelo Norte, encontra-se um pequeno povoado de construções árabes. Aos nossos olhos de europeus ocidentais aparecem como construções bíblicas.
No mundo imenso de evocações, que é a Terra Santa, a cada passo se deparam lugares que trazem à nossa mente um acontecimento de extraordinário relevo histórico, religioso ou artístico.
Está neste caso a pequenina vila de Caná ( Canaã ) onde, segundo o Evangelho de João, se operou o primeiro "milagre", ou "sinal" da missão de Jesus.
Convém notar desde já que de todos os Evangelhos, o quarto, ou de João, é aquele a que se atribui um carácter mais espiritual e simbólico. Mesmo os estudiosos católico-romanos não hesitam em salientar esse aspecto. Ainda recentemente, numa nova edição da Bíblia, se escreveu: "No Evangelho o simbolismo dos fatos narrados é tão constante e evidente, que os acontecimentos descritos não podem se ter apenas por reais, senão antes como cenas idealizadas para enquadrar uma doutrina. Esta doutrina oferece tantos pontos de contato com as ideias filosófico-religiosas do tempo (Fílon de Alexandria, Religiões Orientais) que a estas, e não ao cristianismo genuíno, se tem de ligar o IV Evangelho".
Não representa, portanto, ousadia considerar as bodas de Canaã como um modo simbólico de descrever um acontecimento espiritual, aliás de extraordinária importância, uma vez que figura como o "sinal" da missão de Jesus. Igualmente para os cristãos das várias confissões religiosas, o chamado casamento simbólico é uma expressão muito usada e compreendida pela generalidade dos crentes. Além dos teólogos, mesmo os artistas de várias épocas tornaram o significado espiritual desse acontecimento acessível a todos.
Do ponto de vista espiritual, as bodas de Canaã  para as quais Jesus e os seus discípulos "foram convidados", foi um acontecimento de alto significado espiritual. Teria sido a celebração da união do espírito humano com a divindade de Jesus, uma cerimônia “simbólica”. É realmente digno de atenção verificar que "a primeira atuação pública" se tenha dado numa festa de bodas e que essa atuação consistisse em transformar a água deitada nas vasilhas da purificação em vinho, e este de tal qualidade que causou admiração no próprio mestre-de-cerimônias, entidade certamente conhecedora desta matéria.
Qualquer estudante das doutrinas teológicas sabe que o vinho simboliza a sabedoria divina. E não só na doutrina cristã assume este simbolismo, mas igualmente no Próximo Oriente. Para os "sufis", por exemplo, o vinho representa, também, a sabedoria divina, aquela que resulta da união, do casamento ou bodas da alma com o seu criador.
Jesus Cristo, quando a festa das bodas se ressentia da falta do vinho (sabedoria), transformou o humano e puro saber (água) no vinho da sabedoria divina, que permitiu a celebração completa da festa de união espiritual do homem com Deus.
Mais do que tudo que porventura possamos dizer sobre o simbolismo deste passo do quarto evangelho, melhor será que aqueles que lerem estas linhas, por si mesmo, considerem o seu profundo significado, vivendo intimamente esta experiência ; pois só cada um por si mesmo o poderá fazer e dela colher benefício na medida em que o fizer.
 O verdadeiro significado das bodas de Canaã (e dos textos bíblicos em geral), só pode ser entendido depois de os seus elementos estranhos terem sido peneirados através do crivo dos símbolos e das práticas sociais e religiosas judaicas da época. Se ignorarmos o problema da historicidade do acontecimento,  vamos nos deparar com situações complicadas. Por exemplo, esta cerimônia não pode ter sido, como aparenta, simples, de pessoas pobres. A existência de um  mestre-de-cerimônias, revela o brilho e grandeza do banquete e um número substancial de convidados.
Este número pode ser avaliado pela quantidade de talhas destinadas ao vinho: seis. A capacidade de cada uma das talhas era de três metretas, medida antiga equivalente a cerca de 40 litros. Feitas as contas, isto equivale a aproximadamente noventa dúzias de garrafas modernas. E, não se esqueça, era um fornecimento adicional. Toda esta bebida era suficiente para cerca de setecentos convidados sóbrios, Admitindo que alguns só bebiam por ocasião dos brindes, o vinho dava para uns 1000 convidados!
Registre-se também o fato da anfitriã, segundo o costume judaico, aparentemente ser Maria, a mãe de Jesus. Pois é isto o que significa na tradição judaica.
A transformação da água em vinho também está associado aos fenômenos religiosos (culto), em outros textos bíblicos.
 No Antigo Testamento, é o símbolo de Israel. A transformação da água em vinho é também uma chamada de atenção ao povo de Israel e da sua possível imersão no cristianismo.

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